quarta-feira, 30 de junho de 2010

Cientistas desenvolvem plástico capaz de se autodestruir (Danuza Peixoto)

DA NEW SCIENTIST


Cienstistas nos Estados Unidos desenvolveram um plástico capaz de se autodestruir, o que poderia facilitar sua reciclagem e degradação no ambiente.

Plásticos (polímeros) são formados pela união de compostos químicos idênticos (monômeros). Scott Phillips e Wanji Seo, da Universidade Estadual da Pensilvânia trabalharam com polímeros de ftalaldeído, adicionando um de dois "gatilhos" químicos (éter de silil ou éter de alil) para cada molécula de ftalaldeído que compõe o polímero.

Quando um pedaço do plástico foi exposto a íons fluoreto (de flúor) em temperatura ambiente, sua parte central, onde as moléculas estavam cobertas com éter de silil, sofreram rápida despolimerização e quebraram. As partes cobertas com éter de alil permaneceram sem alterações.

A técnica poderia ser modificada para o desenvolvimento de produtos plásticos que se degradam rapidamente quando expostos a "gatilhos" no ambiente. Se uma sacola feita de um determinado plástico chega ao oceano, por exemplo, enzimas de micro-organismos na água poderiam fazer o material despolimerizar-se e desaparecer, diz Phillips.

O uso de polímeros com "gatilhos" também tem a vantagem de fornecer um método barato de reciclagem de lixo plástico. Isso porque os monômeros resultantes da quebra dos polímeros poderiam ser repolimerizados para criar novos plástico, um processo provavelmente mais barato do que separar diferentes polímeros (plásticos) antes de começar a reciclagem, opina Phillips.

Até o momento, a equipe desenvolveu polímero com "gatilhos" que reagem com íons fluoreto, paládio e peróxido de hidrogênio. Eles também esperam desenvolver polímeros que respondem a enzimas.

A equipe, porém, adverte que o resultado da pesquisa é apenas uma prova de conceito. Ainda é preciso encontrar polímeros que se quebram em substâncias mais ambientalmente corretas do que ftalaldeído. Outro problema é que os polímeros usados até agora são sensíveis a acidez; eles precisam ser mais estáveis para serem utilizáveis.

O estudo foi publicado na revista "Journal of the American Chemical Society".

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Benefícios serão antecipados para vítimas de enchentes (Danuza Peixoto)

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina hoje, às 18 horas, no Palácio da Alvorada, decreto que antecipa o pagamento de benefícios da Previdência Social a pessoas atingidas pelas enchentes nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Na reunião de coordenação política da manhã de hoje, o presidente havia determinado ao ministro da Previdência, Carlos Gabas, que estudasse uma forma de antecipação do pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), para portadores de deficiências ou idosos que têm direito ao benefício e que moram nessas regiões. Lula também quer antecipação do pagamento da aposentadoria rural para esses casos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Depois de enchente, Branquinha se prepara para recomeçar do zero (Danuza Peixoto)

Pouca coisa ficou de pé na cidade de Branquinha, na zona da mata de Alagoas. As imagens de prédios no chão ou prestes a desmoronar lembram em muito o cenário deixado por bombardeios ou furacões.

A estrada de ferro também ajuda a demonstrar a força devastadora do rio Mundaú quando transborda: as águas arrancaram os trilhos do chão e retorceram o metal como se fosse plástico.

A impressão que se tem ao conversar com os moradores é de que tudo vai ter que recomeçar do zero. A ideia de reconstruir a cidade em outro ponto mais alto - e mais distante do rio - está entre as que mais agrada a população.

O projeto também conta com a forte simpatia da prefeita Renata Moraes que disse que vai conversar com o Governo Federal sobre o uso de terras no entorno do município, muitas das quais pertencem a usineiros ou são destinadas à reforma agrária.

Mas isso tudo vai ter de ficar para depois de a emergência passar.

"Agora o que mais precisamos aqui é de organização. Temos que colocar a cidade em ordem para que depois possamos pensar em recomeçar tudo", disse a prefeita, em frente à sua casa repleta de cestas básicas doadas por particulares ou enviadas pelo governo para a população necessitada.

Sem prédios públicos A comida teve que ficar na casa da prefeita - que também vêm funcionando provisoriamente como sede municipal - porque nenhum prédio público da cidade resistiu à enxurrada: o telhado da escola ruiu, as paredes do posto de saúde desabaram, a biblioteca foi arrastada e o cartório e a prefeitura foram destruídos junto com todos os documentos que havia dentro do prédio.

"Estamos cavando aqui onde era minha casa pra ver se achamos os documentos da minha mãe. A enchente matou meu pai e agora pra pedir pensão minha mãe precisa da papelada dela", disse a moradora Ana Paula Silva. "E como o cartório foi destruído não sei o que vamos fazer se não conseguirmos achar os documentos." Ana Paula diz que nunca vai esquecer da noite em que viu sua cidade se encher de água e seu pai ser arrastado. Ela conta que quando o rio começou a subir ela foi com a mãe e os irmãos para um ponto mais alto enquanto o pai decidiu ficar na parte baixa da cidade, em cima da laje da rodoviária municipal, para vigiar a casa deles.

"Lá de cima do mirante a gente só via a luzinha do celular que ele usava como lanterna. De repente o prédio da rodoviária começou a ceder com ele em cima e a gente só ouvia meu pai gritando por ajuda", contou.

"E a noite não passava e no escuro a gente só via água pra onde olhávamos. Eram ondas enormes vindo de um jeito que eu nunca tinha visto na minha vida." Três dias depois do desaparecimento do pai de Ana Paula, o corpo dele foi encontrado rio abaixo. A família ainda encontrou algum conforto em poder fazer um funeral do parente.

"Nem quero imaginar como estão as pessoas que tem parentes desaparecidos. Deve ser a pior coisa", disse Ana Paula.

Desaparecidos E são muitas as pessoas ainda não localizadas depois da chuva. Os números são extremamente imprecisos - há comunidades isoladas onde as autoridades ainda nem chegaram - mas há relatos de mais de 600 pessoas não localizadas.

Os moradores de Branquinha torcem para que o constante cheiro podre que toma conta do ar seja apenas do esgoto que corre a céu aberto e do lixo abandonado. Mas sabem que também pode haver corpos ainda não encontrados sob os escombros da cidade.

O trabalho de limpeza da área já começou com diversos tratores e caminhões enviados pelo governo do Estado. E, enquanto as máquinas trabalham, centenas de pessoas circulam pelo entulho procurando recuperar alguma coisa. Raramente conseguem.

"Achei umas cadeiras e uma mesa, mas estava já tudo completamente estragado. Não consegui aproveitar nada nada das minhas coisas", conta o agricultor Heleno Tavares.

Mas história dele é mais complicada: no ano 2000 quando o rio Mundaú também transbordou, embora com menos intensidade, a casa em que ele morava foi inundada. Tavares se mudou para uma casa um pouco mais distante do rio mas ainda nos baixos da cidade.

Na semana passada quando viu a água começando a subir ficou com medo e aceitou o convite da uma amiga para guardar as coisas dele na casa dela, ainda mais distante do rio.

"Ela me disse que na casa dela nunca entrava água. Mas dessa vez entrou e a casa dela desabou ainda antes da minha. Perdi tudo mais uma vez."

terça-feira, 22 de junho de 2010

Alagoas vive cenário de guerra após enchentes que destruíram 15 cidades (Danuza Peixoto)

Carlos Madeiro
UOL Notícias
Do Vale do Mundaú (AL)

Enchentes devastam União dos Palmares (80 km de Maceió); mais imagens da destruição

A desolação diante da destruição causada pela enchente do rio Mundaú, em Alagoas, é um sentimento que salta aos olhos dos moradores das cidades castigadas pela força da água. Milhares de famílias perderam tudo na sexta-feira (18), quando o nível do rio subiu seis metros, invadiu ruas e causou estragos inéditos na região do Vale do Mundaú.

Vinte e seis cidades foram atingidas, e 15 municípios decretaram estado de calamidade pública, segundo último balanço da Defesa Civil Estadual. Além disso, 26 pessoas morreram, 607 estão desaparecidas e 73 mil, desabrigadas.

O UOL Notícias foi até os três municípios mais atingidos (União dos Palmares, Rio Largo e Branquinha) e encontrou um cenário que mais lembra o de uma guerra: centenas de casas destruídas e uma população desabrigada tentando entender o que aconteceu, para só então tentar recomeçar a vida.

Em União dos Palmares (80 km de Maceió), o mais atingido, a primeira impressão de quem chega às quatro ruas às margens do rio Mundaú, onde a cidade "nasceu", é de que uma bomba foi lançada sobre o local.

Prefeitura e 23 prédios públicos destruídos

Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, onde a barragem que abastece a usina da cidade se rompeu

Mais imagens da tragédia
Somente na região conhecida como Jatobá, próxima à ponte que liga a cidade a Serra da Barriga (onde existiu o maior quilombo brasileiro e que consagrou Zumbi dos Palmares como herói nacional), cerca de mil casas foram completamente destruídas.

"Sempre teve enchente, mas sempre a água baixava logo, não cobria casa aqui. Só que dessa vez só deu tempo de sair com a roupa. Foi rápido demais, perdemos tudo", afirmou José Izidoro, 56. "Só não foi pior porque foi de dia. Se fosse à noite, e não víssemos a água, teriam morrido milhares", completou José Amauri, 37, que viu a oficina de veículos se transformar em destroços.

O prefeito da cidade, Areski Freitas, informou à reportagem que o número de mortos chegou a 14, enquanto 15 mil estão desabrigados e desalojados. "Temos 10 mil somente nas escolas, fora os que foram para casa de parentes e amigos", afirmou. Segundo Freitas, três escolas e dois postos de saúde foram destruídos pela enchente e as estimativas dão conta de que entre 30 e 40 pessoas possam estar desaparecidas.

Rio Largo tem 23 prédios públicos destruídos
Em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, toda a parte baixa da cidade, onde está o centro comercial e principais prédios públicos, foi inundada e destruída pela enchente. Uma barragem que abastece a usina da cidade se rompeu, e os trilhos do trem que ligam a cidade a Maceió foram destruídos. O principal acesso aos municípios também está interditado.

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UOL Notícias
"Perdi minha casa, meu bar, meu dinheiro que estava na vitrola e ainda estou sem documentos. Só não estou passando fome porque estão me dando comida", disse a comerciante Izabel Cristina, 42. “Sou criada e nascida aqui, vi a cidade crescer e nunca imaginei isso. Nunca que o rio chegou a um ponto desse. Destruiu tudo, passou pelo centro e chegou até a feira”, afirmou a feirante Maria da Conceição, 74, que perdeu toda a mercadoria e, ontem, tirava a lama da rua onde vende frutas e verduras no centro.

Segundo a Defesa Civil municipal, 23 prédios públicos, entre eles a prefeitura, foram destruídos com as enchentes. Quatro pessoas morreram, 33 estão desaparecidas e 4.159 estão desabrigadas. A sede administrativa e de coordenação dos trabalhos de apoio às vítimas foi transferida para uma escola na parte alta da cidade.

Branquinha 80% inundada
Em Branquinha (61 km de Maceió), o cenário de destruição também impressiona. Todo o centro da cidade e principais bairros foram alagados e, no fim da tarde, todas as casas e prédios foram abandonados. "A cidade não tem mais nenhum prédio público inteiro. Todos foram destruídos", disse o secretário de Estado da Saúde, Herbert Motta, que visitou a cidade na tarde de ontem.

Chuva em Pernambuco
As fortes chuvas e suas consequências também atingem o Estado de Pernambuco, onde 12 pessoas morreram desde a semana passada e deixaram 17.208 desabrigados e outros 24.552 desalojados. No total, 54 municípios foram afetados e 30 decretaram situação de emergência.

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Logo na entrada do município, a lama toma conta da rua principal e impede o acesso por meio de carros de passeio. Lojas, repartições públicas, banco e agência dos Correios foram destruídos. Nas ruas, carros completamente destruídos foram abandonados. Até o fim da tarde, a cidade continuava sem energia elétrica, e o fornecimento de água era feito apenas por carros-pipa.

"Só Deus explica uma coisa dessas. A água destruiu tudo. Meu filho e minha nora vieram para minha casa e não acreditei. Tive que vim ver para crer", disse Maria da Conceição, 61.

Diante de uma cidade inteira inundada, a dúvida dos moradores agora é: vale a pena construir casas no mesmo local? "Eu não quero mais. Acho que, se o rio veio um dia, virá de novo", profetizou Valéria Silva, 53, que abandonou sua casa e está em um abrigo público da cidade.