terça-feira, 22 de junho de 2010

Alagoas vive cenário de guerra após enchentes que destruíram 15 cidades (Danuza Peixoto)

Carlos Madeiro
UOL Notícias
Do Vale do Mundaú (AL)

Enchentes devastam União dos Palmares (80 km de Maceió); mais imagens da destruição

A desolação diante da destruição causada pela enchente do rio Mundaú, em Alagoas, é um sentimento que salta aos olhos dos moradores das cidades castigadas pela força da água. Milhares de famílias perderam tudo na sexta-feira (18), quando o nível do rio subiu seis metros, invadiu ruas e causou estragos inéditos na região do Vale do Mundaú.

Vinte e seis cidades foram atingidas, e 15 municípios decretaram estado de calamidade pública, segundo último balanço da Defesa Civil Estadual. Além disso, 26 pessoas morreram, 607 estão desaparecidas e 73 mil, desabrigadas.

O UOL Notícias foi até os três municípios mais atingidos (União dos Palmares, Rio Largo e Branquinha) e encontrou um cenário que mais lembra o de uma guerra: centenas de casas destruídas e uma população desabrigada tentando entender o que aconteceu, para só então tentar recomeçar a vida.

Em União dos Palmares (80 km de Maceió), o mais atingido, a primeira impressão de quem chega às quatro ruas às margens do rio Mundaú, onde a cidade "nasceu", é de que uma bomba foi lançada sobre o local.

Prefeitura e 23 prédios públicos destruídos

Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, onde a barragem que abastece a usina da cidade se rompeu

Mais imagens da tragédia
Somente na região conhecida como Jatobá, próxima à ponte que liga a cidade a Serra da Barriga (onde existiu o maior quilombo brasileiro e que consagrou Zumbi dos Palmares como herói nacional), cerca de mil casas foram completamente destruídas.

"Sempre teve enchente, mas sempre a água baixava logo, não cobria casa aqui. Só que dessa vez só deu tempo de sair com a roupa. Foi rápido demais, perdemos tudo", afirmou José Izidoro, 56. "Só não foi pior porque foi de dia. Se fosse à noite, e não víssemos a água, teriam morrido milhares", completou José Amauri, 37, que viu a oficina de veículos se transformar em destroços.

O prefeito da cidade, Areski Freitas, informou à reportagem que o número de mortos chegou a 14, enquanto 15 mil estão desabrigados e desalojados. "Temos 10 mil somente nas escolas, fora os que foram para casa de parentes e amigos", afirmou. Segundo Freitas, três escolas e dois postos de saúde foram destruídos pela enchente e as estimativas dão conta de que entre 30 e 40 pessoas possam estar desaparecidas.

Rio Largo tem 23 prédios públicos destruídos
Em Rio Largo, na região metropolitana de Maceió, toda a parte baixa da cidade, onde está o centro comercial e principais prédios públicos, foi inundada e destruída pela enchente. Uma barragem que abastece a usina da cidade se rompeu, e os trilhos do trem que ligam a cidade a Maceió foram destruídos. O principal acesso aos municípios também está interditado.

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"Perdi minha casa, meu bar, meu dinheiro que estava na vitrola e ainda estou sem documentos. Só não estou passando fome porque estão me dando comida", disse a comerciante Izabel Cristina, 42. “Sou criada e nascida aqui, vi a cidade crescer e nunca imaginei isso. Nunca que o rio chegou a um ponto desse. Destruiu tudo, passou pelo centro e chegou até a feira”, afirmou a feirante Maria da Conceição, 74, que perdeu toda a mercadoria e, ontem, tirava a lama da rua onde vende frutas e verduras no centro.

Segundo a Defesa Civil municipal, 23 prédios públicos, entre eles a prefeitura, foram destruídos com as enchentes. Quatro pessoas morreram, 33 estão desaparecidas e 4.159 estão desabrigadas. A sede administrativa e de coordenação dos trabalhos de apoio às vítimas foi transferida para uma escola na parte alta da cidade.

Branquinha 80% inundada
Em Branquinha (61 km de Maceió), o cenário de destruição também impressiona. Todo o centro da cidade e principais bairros foram alagados e, no fim da tarde, todas as casas e prédios foram abandonados. "A cidade não tem mais nenhum prédio público inteiro. Todos foram destruídos", disse o secretário de Estado da Saúde, Herbert Motta, que visitou a cidade na tarde de ontem.

Chuva em Pernambuco
As fortes chuvas e suas consequências também atingem o Estado de Pernambuco, onde 12 pessoas morreram desde a semana passada e deixaram 17.208 desabrigados e outros 24.552 desalojados. No total, 54 municípios foram afetados e 30 decretaram situação de emergência.

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Logo na entrada do município, a lama toma conta da rua principal e impede o acesso por meio de carros de passeio. Lojas, repartições públicas, banco e agência dos Correios foram destruídos. Nas ruas, carros completamente destruídos foram abandonados. Até o fim da tarde, a cidade continuava sem energia elétrica, e o fornecimento de água era feito apenas por carros-pipa.

"Só Deus explica uma coisa dessas. A água destruiu tudo. Meu filho e minha nora vieram para minha casa e não acreditei. Tive que vim ver para crer", disse Maria da Conceição, 61.

Diante de uma cidade inteira inundada, a dúvida dos moradores agora é: vale a pena construir casas no mesmo local? "Eu não quero mais. Acho que, se o rio veio um dia, virá de novo", profetizou Valéria Silva, 53, que abandonou sua casa e está em um abrigo público da cidade.

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